27 de mai. de 2013

Era uma vez... 2012




Capítulo I – O mundo em ebulição

Edição 164 – ano 14 – número 11 – novembro de 2011

Osama Bin Laden foi assassinado por tropas americanas no Paquistão. O Iraque, livre dos americanos, foi eleito para a presidência da OPEP, para incentivar sua produção de petróleo. O rei do Marrocos antecipou-se à revolução resguardando seu poder com algumas reformas. Na Líbia a sangrenta revolta civil captura e mata Muamar Kadafi depois de 42 anos de regime. A oposição a Assad na Síria é apoiada pela Turquia, que serve de exemplo para os países da região. A população do Egito, assiste à renuncia de Hosni Mubarak depois de três décadas de governo. Na Tunísia, os cidadãos empurram Ben Ali para fora do governo. China, Irã e Rússia formam uma aliança contra a liga formada por EUA, Israel e Arábia Saudita. O movimento Primavera Árabe transforma o perfil da região, que toma o rumo da democracia. Na Europa, a crise econômica se agrava com a ameaça de calote da Grécia. A Standard & Poor rebaixa as notas dos países da zona do Euro que temem a chegada de uma onda de imigrantes ilegais. A violência toma Londres de assalto, sem motivo aparente. Na Noruega, um extremista massacra 77 pessoas em duplo atentado. Michelle Bachelet diz que o PIB global é dez vezes maior que em 1960, mas 75% da população mundial não está coberta pelo seguro social. Na Rússia, o maior protesto depois da Perestroika acusa fraude nas eleições Ao redor do mundo milhares de pessoas seguem o movimento “Ocupem Wall Street” de Nova York contra o sistema capitalista. Na África, pescadores da Somália combatem os navios pesqueiros da Espanha. Os chineses alugam terras na Argentina para plantação de milho e soja e exportam produtos tecnológicos e industrializados. As exportações da China cresceram 12 vezes em uma década e o fantasma da economia extrativa ronda a América Latina. A corrente migratória traz de volta os emigrantes dos países emergentes. Esse mundo vai acabar em 21 de dezembro de 2012?
Beatriz Lemos Maia
Editora Executiva

Este é o editorial da revista Pandora, publicado no dia 5 de novembro de 2011. Você sabe o que fez nesse dia? Estamos na Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro. Se ainda não conhece o lugar, vale a pena fazer uma visita. A imagem de pedra-sabão do Cristo Redentor, que completou 80 anos no mês passado, pode ser vista de ângulos inusitados. De pertinho quase dá para sentir seu sopro benfazejo; de longe, para os céticos, apenas um adorno de bom gosto. Aproveite para dar uma volta de pedalinho, medite sossegado debaixo de um fícus, se esse for o seu estilo, ou traga seu cachorrinho para uma festa de aniversário no “Parcão”. Qualquer coisa o fará feliz neste cenário. O asteroide 2005 YU55 passará daqui a três dias a 323 mil quilômetros da Terra. Ele tem 400 metros de diâmetro e o melhor ponto de observação será o oeste africano. Ele é composto de minerais à base de carbono, muito escuro, difícil de observar. Caso atinja a Terra, abrirá uma cratera de 500 metros de profundidade e 8 quilômetros de largura. São sete horas da manhã e é nisso que pensa Beatriz. Ela hoje testa seu tênis novo na caminhada cronometrada que faz de segunda a sexta feira pela manhã com seu preparador físico, o Paulão. Está com sobrepeso, disse a médica, mas ela se sente obesa. Neste dia, especialmente resolutas, ela e as passadas consumiram duas horas no percurso de 7,5 km, uma volta completa na Lagoa.
Beatriz, como você progrediu! Acho que já posso incluir a corrida em seu programa. Ela, bufando com o rosto coberto por abomináveis placas vermelhas aleatoriamente distribuídas, banhada do suor que tanto odeia, sorri maravilhada com seu desempenho.

16 de mai. de 2013

Escrevinhando



Quase não dormi. Até três horas da manhã devorei um Eckart Tolle, presente de aniversário. Autoajuda, sim, mente aberta, sem preconceito. “O poder do agora” vai funcionar e finalmente vou conseguir meditar, sonho antigo e falido. Clarice e Drummond, que estão na fila, terão que esperar um pouco mais pela minha releitura. Amanheço, como sempre, bem disposta. A diarista chegou cedo e já cuida dos afazeres domésticos. A primeira coisa que vejo é o caderno aberto na mesinha de cabeceira. Tomo o remédio em jejum no copo com água de véspera, alongo o corpo, e bocejo. Os dedos cansados abraçam, sem ânimo, a caneta atrofiada de tanto arrumar as palavras produzidas pela mente compulsiva, preciso entregar hoje o texto proposto na oficina literária.

9 de mai. de 2013

De férias



Disseram que eu vinha de férias e que ia gostar do lugar. Fiquei muito animado com a viagem, mas confesso que foi uma experiência decepcionante. Primeiro aquela força intempestiva e ritmada me empurrando, depois o vácuo. A seguir um barulho ensurdecedor e uma luz feérica e pulsante desenhando formas disformes, uma sufocante falta de ar e o frio intenso. Os sentidos virgens expondo o cérebro a uma vertiginosa seqüência de informações rápidas e desconexas. Cheguei. O tempo passou lentamente e pouca coisa mudou. Enfrentar o ritual da higiene e a demorada troca de roupa exigiu de mim muita acrobacia. Vestir a gola menor que a cabeça e o sapato menor que o pé, eram parte da minha rotina desgastante. Nos testes diários, as intermináveis provas de força e inteligência a que fui submetido foram um sacrifício. Vim para passear e não para viver esse incessante aprendizado; sofrer com os fracassos sucessivos tem sido humilhante.