Ao alcance da mão na tela do computador as notícias frescas do Brasil. O
olhar longínquo vindo do outro hemisfério revela-se perplexo diante da
realidade.
Na primeira tela abro o vídeo de abertura da Jornada Mundial da
Juventude. Dom Orani Tempesta, o Arcebispo da cidade, com suas simpáticas
bochechas, hoje mais solenes, convoca os jovens do mundo inteiro a orar. Um
milhão de pessoas acompanham a Missa de Acolhimento realizada no palco
faraônico montado na Praia de Copacabana. Os cânticos aceleram o coração da
massa. Nem a chuva, nem o vento esmorece o entusiasmo dos devotos fiéis.
Na próxima tela, outro vídeo mostra mais um confronto oriundo da
manifestação de desagravo do povo brasileiro contra o Governo. A Polícia
Militar e cerca de trezentas pessoas se enfrentam próximo ao Palácio Guanabara,
local de trabalho do governador do Rio de Janeiro, bola da vez na mira dos
revoltados. Nem as balas de borracha, nem os jatos d’água acalmam os ânimos
exaltados dos rebeldes mascarados.
O primeiro grupo, bem definido, é formado pelos seguidores da Igreja
Católica Apostólica Romana; por escolha pessoal ou em maioria por decisão
paterna ao nascimento. Alinhados com a segura direção do Vaticano, investem
maciçamente na recuperação do prestígio da Instituição milenar. Todos apostam
suas fichas na presença carismática do Papa Francisco e sua atuação como novo
líder. A nacionalidade argentina, motivo de rejeição a muitos compatriotas é
digerida docemente. A origem franciscana transparece na pratica da humildade.
Seu discurso moderno, com o tom simples dos hábeis comunicadores faz crer que
chegou a hora de trazer de volta a Paróquia, os seus fiéis arredios. Não mais
como um rebanho crédulo e infantilizado. A razão já pode encontrar a fé e
trocar ideias, discutir os problemas sociais e enfrentar os dogmas sem temor.
Sou católico, logo penso.
O segundo grupo, ainda indefinido quanto ao seu querer, já abrigou em
suas fileiras cidadãos trabalhadores, estudantes e aposentados. Todos
protestando contra a malversação de recursos pelo Estado nas três esferas
administrativas; federal, estadual e municipal. Famílias inteiras participaram
do primeiro grande movimento popular contra a corrupção. O primeiro momento de contagiante euforia
passou. Os gritos e esperneios da população causaram sem duvida algum
desconforto nos governantes, mas não os assustaram. As donas de casa voltaram
para o fogão, os trabalhadores aos seus empregos e os idosos ao desconforto da
velhice. Sobraram os jovens de agenda flexível, carregando nas faixas e
cartazes o inflexível pensamento característico da idade. Basta uma rápida
olhada nas redes sociais para verificar a dicotomia. Ser contra ou a favor é a
questão de ordem, fracos argumentos, repetidos a exaustão, sua prática. O bom
senso também está de férias.
Preparo corpo, alma e a mala para a volta; estou
quase pronta para a ação. O homem cordial presente na primeira tela contrasta
em cor e som com o violento apresentado na segunda. Os dois me representam; afinal
rezar e protestar já fazia Jesus há mais de dois mil anos atrás. Vambora lá!
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