No feriado carioca de 23 de abril, muito festejado, celebramos
São Jorge, o santo da moda, com todo respeito. O santo guerreiro se encaixa bem
com o perfil do brasileiro, que é obrigado a matar um dragão por dia. Mas a
nossa Capadócia é outra; muito menos árida que a igualmente linda região turca,
a nossa cidade é cercada por luxuriante verde. Infelizmente a pobreza, a
marginalidade e a violência, não são compensadas pela imagem do cartão postal. Mas
somos um povo de fé exacerbada que nos cega e nos faz avançar confiante; dias
melhores virão. O hálito do nosso dragão cheira bem; a corrupção que ataca
nosso estômago é bem disfarçada com os antiácidos que a implacável indústria farmacêutica
nos oferece, com prazer. A couraça da impunidade mantêm-se intacta, graças aos bem
elaborados artifícios das leis tendenciosas.
O Estado, padrinho oportunista e irresponsável,
devolve, com frequência, os afilhados delinquentes ou apenas mal comportados à
sociedade. Esta que aprenda a formar seus cidadãos, a família que aprenda a
educar seus filhos - “a Cesar o que é de Cesar”. O velho ditado usado para o
bem e para o mal até os dias de hoje, se origina no cenário em que a história
do santo mártir se desenrola. Fora as lendas de dragões e princesas; o fato é
que o soldado romano, de origem turca, criado na Palestina, tornou-se cristão.
Resistindo, heroicamente, aos apelos do imperador romano para que adorasse seus
deuses. Ele sustentou sua fé em Cristo, mesmo sabendo certa e próxima sua
morte, São Jorge, aos vinte e oito anos, fortaleceu o cristianismo, servindo de
exemplo aos jovens daquela época.
A tese da incompetência administrativa, construída ao longo de anos em torno da famigerada miscigenação, eterna responsável pela nossa triste sina subdesenvolvida está perdendo credibilidade. Celebrado com entusiasmo, em tempos politicamente corretos, o sincretismo religioso se encarrega de unir forças, une a sua volta os mais diversos credos; ponto para São Jorge, o santo democrático. O altivo guerreiro de ontem perde agora seu espírito altaneiro e ganha ares mais modernos. Não se isola no canto gregoriano e se aproxima de outros ritmos; através do convívio com os fiéis da umbanda, representado por Ogum, coloca em seu canto o som dos atabaques. Montado em seu cavalo branco, se integra aos deuses negros com total intimidade.
Graças ao título da telenovela exibida no horário
nobre, o seu nome está na boca do povo. Não que ele estivesse esquecido nos
corações dos devotos, pelo contrário, ele sempre foi um dos santos mais
populares do Cristianismo ao redor do mundo. Mas agora ele está na mídia,
saltou do imaginário religioso e Invadiu a cultura mundana. Pendurado no
pescoço do pagodeiro ou como berloque na pulseira da estudante, ele é figura onipresente.
Sua linda oração estampa camisas e são parte integrante da musica popular
brasileira. As palavras simples da prece vão de encontro ao maior temor dos dias
de hoje, a violência. O tom suplicante da prece entoada com devoção demonstra
um urgente desejo de paz. Enquanto não nos é possível alterar o sistema
estabelecido, invoquemos a proteção de São Jorge e agradeçamos pela bala
perdida ou a bomba que foi desviada do nosso caminho.
“Eu andarei vestido e armado com as armas de São
Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me
peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer
algum mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se
quebrarão sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu
corpo amarrar.”
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